Saúde e Direitos Humanos
Balanço do coletivo de saúde da gestão 2015-2018 do Sepe
14 de janeiro de 2019
Chegamos ao início de 2019 com uma conjuntura bastante adversa para a classe trabalhadora, marcada por uma crise econômica no país em que joga o papel de recuperação dos lucros da burguesia para a nossa classe. A chegada de Bolsonaro e Witzel aos governos federal e estadual, tende a intensificar os ataques aos trabalhadores, ataques estes que já caminhavam a passos largos com seus antecessores, Temer e Pezão. Para atingir esses objetivos, os governos tentarão acelerar a aprovação da reforma da previdência, fragilizar os direitos trabalhistas, bem como a CLT; medidas que se somam à reforma trabalhista aprovada em 2017 e ao aumento da alíquota previdenciária no Estado do Rio de Janeiro, que aumentou a contribuição dos servidores estaduais. Estas medidas tornarão ainda mais precárias as nossas condições de trabalho e afetarão diretamente a saúde dos trabalhadores e por tabela, a saúde dos profissionais da educação.
A secretaria de Saúde e Direitos humanos do Sepe, percebendo no cotidiano as enormes dificuldades trazidas pela categoria, decidiu por expandir a sua organização construindo o Coletivo de Saúde do Sindicato,- que começou a se organizar em 2017 – integrado pelos diretores da secretaria e por militantes voluntários que decidiram participar deste espaço. Nosso principal objetivo era o de expandir para a categoria uma discussão acerca de todos os fatores que afetam nossa saúde, estabelecendo uma relação direta com o nosso trabalho.
Ainda em 2015, no início da gestão, conseguimos firmar um convênio com o Laboratório de Estudos em Políticas Públicas, Trabalho e Sociabilidade (LEPPTras) da Escola de Serviço Social da UFRJ, coordenado pela professora Alzira Guarany, com o qual nos capacitamos para fazer as discussões sobre Saúde do Trabalhador. Desde este início, começamos atividades de Rodas de Conversa com a categoria, mantidas até o presente momento. Se no início esta atividade estava restrita à sede do Sepe Central, conseguimos expandi-la, realizando- a em outros municípios, como Mangaratiba e Barra do Piraí. A maior dificuldade encontrada para estas atividades foi a rígida estrutura escolar que impede que a categoria consiga se organizar para realizar debates. Não foram poucas às vezes que rodas de conversa marcadas para serem realizadas em colégios foram, na prática, inviabilizadas pela impossibilidade de encontrar horários adequados. Pode parecer um problema menor, mas esta é apenas uma demonstração de como o trabalho recai sobre nossas vidas. É bastante difícil de disponibilizarmos poucas horas por mês para discutirmos questões fundamentais sobre nossas vidas, que a estrutura profissional inviabiliza formas mais simples de organização de nossa classe.
Pudemos observar, que é esta estrutura que recai sobre os professores e afeta diretamente sua saúde. Não foram raras as vezes em que rodas de conversa se tornaram uma espécie de divã para os educadores abrirem todas os seus problemas em forma de catarse coletiva, e possivelmente este tenha sido o maior ganho para nós: os trabalhadores perceberem que seus problemas não são problemas individuais, mas um problema de uma coletividade que sofre com as mesmas condições de trabalho, permitindo que se entendam enquanto classe.
Nesse mesmo passo, realizamos uma pesquisa junto à categoria, durante o congresso do SEPE em setembro de 2017, em que ficou evidenciado que os problemas relacionados a saúde mental estão entre os maiores transtornos que afetam nossa vida profissional. Responderam ao questionário passado, 242 profissionais. Constatamos que cerca 90% dos participantes identificaram que sofrem de cansaços mentais permanentes, sendo este um dos sintomas da Síndrome de Burnout (síndrome do esgotamento profissional) e outros 80% sentem-se emocionalmente exaustos, mais de 2/3 dos educadores não estão motivados com a profissão e manifestaram desejo de mudar de ramo, não estando dispostos a aperfeiçoar-se em sua área de formação sendo que 65% não observa perspectiva de futuro e mais da metade sente-se frustrado com sua vida profissional. A sobrecarga de trabalho atinge cerca de 80% dos profissionais da educação, tanto pelas horas trabalhadas quanto pelo desvio de função. O resultado é que 45% de nossa categoria toma remédios continuamente e outros 38% esporadicamente. Esses são alguns dos alarmantes dados sobre os trabalhadores da educação, uma categoria que adoece conforme aumenta a exploração sobre nossas atividades laborais. O uso individual de medicação tende a não surtir efeito na medida em que as condições de nosso espaço e de nossas condições de trabalho não forem modificadas.
Conseguimos dar um pontapé inicial para o coletivo e o desafio que fica é trabalhar para expandir para os núcleos, regionais e escolas as atividades que foram iniciadas nesta gestão. Deixamos em aberto um contato com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz para futuras parcerias. O coletivo começa a ter uma dinâmica de funcionamento própria e identificamos que é fundamental a continuidade deste trabalho, afirmando-se na estrutura sindical, montando acervo com atas, relatórios, fotos e outros documentos. As direções do sindicato passam, mas a categoria fica e construir uma política de saúde permanente para os educadores é tarefa prioritária.
Coletivo de Saúde e Direitos Humanos do SEPE.