Saúde e Direitos Humanos
A Saúde dos Profissionais da Educação: qual o papel do SEPE diante desse quadro crítico?
1 de outubro de 2015
Os profissionais da educação precisam conhecer com urgência a relação existente entre sua saúde mental e física e as condições de trabalho a que estão expostos. Poderíamos falar de várias, mas algumas são mais importantes como: o acúmulo de funções, a sobrecarga de tarefas, os precários salários e planos de carreira, a alta carga horária, a indisponibilidade e a baixa qualidade dos materiais de trabalho, a falta de controle e de autonomia no processo de trabalho e o tempo de deslocamento de nossas casas para o trabalho.
Muitos profissionais estão adoecendo física e mentalmente em taxas alarmantes, como mostra o crescente número de afastamentos por esgotamento profissional (burnout) e depressão, para citar as categorias de transtornos mentais mais diagnosticadas entre os professores. O desconhecimento do potencial patogênico das condições de trabalho contribui para que os profissionais não se mobilizem diante do adoecimento de seus colegas e mesmo de si próprios.
Desafortunadamente, a maior parte de nossa sociedade é massacrada pelo discurso que situa nos indivíduos a culpa por problemas cujas causas estruturais são econômicas e políticas. No caso da saúde, o modelo biomédico e a indústria farmacêutica hegemônica consideram o adoecimento como um problema meramente pessoal e que, portanto exige intervenção apenas sobre o indivíduo; os fatores causais estruturais permanecem intocados e continuam a ser fonte de adoecimento não apenas para novos indivíduos como para aqueles que já se recuperaram de agravos anteriores. Com efeito, estamos inseridos em um modelo de saúde que na prática focaliza apenas a recuperação da doença, em detrimento da prevenção e promoção da saúde preconizadas pelo SUS
Deste modo, quando os profissionais da educação enfrentam dificuldades físicas ou mentais em seu dia-a-dia, dificilmente irão pensar nas causas laborais que estão em jogo nos sintomas de que padecem. No entanto, é preciso questionar a ideia de que esses sintomas são consequências de fraquezas e impotências individuais. Problema de insônia e de apetite, cansaço, falta de motivação, relacionamentos pessoais prejudicados, úlceras gástricas, problemas dermatológicos e de pressão arterial, dentre outros, são sintomas bastante comuns de um problema que não é individual, mas político e econômico: a precarização do trabalho.
A precarização do trabalho nas escolas públicas serve não apenas para produzir força de trabalho barata para as funções menos qualificadas no mercado de trabalho, como também para engrossar o exército de reserva e ainda promover e justificar a privatização da educação pública. Obviamente, a educação não é a única visada: a estratégia de precarizar os serviços públicos para promover a privatização dos mesmos é fundamental para legitimar a expansão do capital para áreas consideradas dever do estado e direito de todo cidadão: educação, saúde, moradia, transporte etc.
Além de adoecer o profissional, a precarização do trabalho, acompanhada do individualismo hegemônico, contribui para promover a ruptura dos laços de solidariedade entre os trabalhadores e trabalhadoras, colocando-os uns contra os outros na competição pelos escassos recursos disponíveis e legitimando a concorrência entre pares através do discurso da meritocracia, usado amplamente para justificar a desigualdade de oportunidades que se oferecem para a população como um todo.
Neste cenário desolador, não é de espantar o vultoso crescimento de afastamentos por transtornos mentais e físicos entre os profissionais da educação. Vultoso também é o lucro da indústria farmacêutica que financia discursos e práticas patologizantes, sobretudo, entre os médicos e a mídia, fazendo com que compremos remédios e tratamentos individuais ao invés de lutarmos pela transformação das condições que nos adoecem.
Não queremos remédio, nem para nossos profissionais, nem para nossos alunos, queremos a eliminação das condições que provocam o adoecimento. Para tanto, precisaremos transpor a imensa barreira do “cada um por si” que faz com que apenas soluções individuais sejam buscadas para problemas que dizem respeito a todos.
É totalmente necessária para nossa categoria que o SEPE construa um coletivo de saúde física e mental do trabalhador da educação, tentativa feita em gestões anteriores que chamamos na oportunidade de Comunidade Ampliada de Pesquisa CAPE na área de Saude dos profissionais da educação, visando o engajamento da categoria nesse trabalho, para potencializar tanto o rompimento com a lógica mercantilizadora, realizando um tratamento coletivo dos sintomas, quanta a realização de ciclos de debate sobre as causas estruturais dos mesmos.
Secretaria de Saúde e Direitos Humanos do SEPE/RJ