Num verdadeiro show de horrores que parece não ter fim, a liquidação do Banco Master e a prisão de vários dos seus diretores assombra os servidores aposentados e pensionistas do estado do Rio de Janeiro, que, a cada dia que passa, veem estampadas nas manchetes dos veículos de informação as ligações espúrias entre o Rioprevidência e a instituição financeira.
Hoje, a imprensa está denunciando que, ao invés dos R$ 960 milhões investidos em letras financeiras do Master, o fundo de previdência dos servidores estaduais, a despeito das advertências do Tribunal de Contas do Estado (TCE), na verdade teria investido a assombrosa quantia de R$ 2,6 bilhões em diversas aplicações na instituição, cerca de 25% do total dos recursos aplicados pelo Rioprevidência. O governo estadual nega e o fundo de pensão afirma que o total das verbas aplicadas é de R$ 960 milhões e que o pagamento das aposentadorias e pensões não estaria em risco.
Mas o Sepe e os servidores do estado perguntam: como acreditar numa instituição que continuou realizando aplicações num banco envolvido numa série de investigações do Banco Central e do mercado financeiro e que atravessava uma crise de liquidez conhecida por todos, anunciada todos os dias pela imprensa durante o suspeito processo de negociação envolvendo o Master e o Banco Regional de Brasília, com a cobertura e apoio de políticos do chamado Centrão? Como acreditar num governador que aprovou a toque de caixa uma lei, que permite o avanço nos royalties do petróleo destinados ao Rioprevidência para o pagamento das dívidas estaduais com a União, fato que ameaça a saúde financeira do órgão e o futuro do pagamento dos servidores aposentados e pensionistas?
Segundo matéria do Jornal o Globo de hoje e de vários outros veículos de comunicação, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) já tinha aberto uma investigação no ano passado para apurar a gestão de operações feitas pela autarquia, destinando 25% de todos os recurso aplicados no mercado financeiro ao grupo Master, que se vendia como uma instituição agressiva no mercado que oferecia taxas muito acima da média das outras. O Jornal deu quase metade da capa e três páginas internas sobre o escândalo, com textos sobre a investigação a cargo da Polícia Federal sobre as transações envolvendo o banco liquidado e instituições como o Banco Regional de Brasília (BRB), Rioprevidência e as ligações do dono, Daniel Vorcaro, preso ontem, com políticos ligados ao Centrão.
Na parte referente ao fundo de pensão, o jornal mostra que o TCE-RJ identificou um “atropelo” do Rioprevidência no processo de habilitação e escolha do Master para aplicação dos seus recursos. O Tribunal enviou um documento ao órgão, avisando que qualquer nova operação com o Master implicaria na integral aceitação do risco de possíveis irregularidades da parte da direção do fundo. Em outubro, o Tribunal determinou o impedimento de quaisquer outras operações com o Master.
Mas, “estranhamente”, de 20 de maio a 25 de julho deste ano, mesmo com a ampla divulgação da difícil situação do banco, o Rioprevidência aplicou R$ 1,1 bilhão em fundos geridos pela instituição financeira em crise. A desculpa dada pela direção do órgão eram as “taxas vantajosas oferecidas pelo Master, muito superiores aos outros investimentos disponíveis no mercado”. O resultado não poderia ser outro: ontem, o dono do banco Master e vários diretores foram presos pela Polícia Federal na operação “Compliance Zero” e o Banco Central decretou a liquidação da instituição, deixando milhares de investidores, entre eles diversos órgãos públicos, como o Rioprevidência e o BRB na incerteza do retorno do dinheiro investido, já que o Fundo Garantidor de Crédito só cobre operações no mercado financeiro até R$ 250 mil.
Há muito tempo, o Sepe, em especial a Secretaria de Aposentados do sindicato, vem denunciando a má gestão e as falcatruas realizadas com o dinheiro das nossas aposentadorias através do Rioprevidência, em sucessivas gestões de governos estaduais. Não é uma simples coincidência o “esquecimento” e posterior arquivamento dos resultados da CPI do órgão, realizada pela ALERJ em 2019 e que apontou uma série de operações irregulares com o dinheiro das contribuições dos funcionários estaduais, como a “Operação Delaware”, que tungaram milhões dos cofres do fundo para utilização em operações milionárias de risco que causaram prejuízo.
No entender do sindicato, é necessária a abertura imediata de uma investigação profunda e séria com relação à saúde financeira do Rioprevidência e o modo como o nosso fundo é administrado, inclusive com responsabilização do Poder Executivo, que é o responsável final pela nomeação da sua direção geral. Não é possível que centenas de milhares de aposentados e pensionistas corram um risco real de, num futuro muito próximo, não terem o pagamento das suas aposentadorias, pensões e benefícios pagos por causa da falência de um órgão para o qual contribuíram pesadamente em boa parte das suas vidas. Operação Delaware, liquidação do banco Master, má administração e gestão temerária, confisco dos royalties do petróleo do caixa… Por quanto tempo vamos ter que aturar os escândalos e falcatruas envolvendo o nosso fundo de pensão? Ninguém é preso, ninguém sofre punição? Quem afinal, vai pagar por isso?
Tirem as mãos da nossa Previdência!
Veja matéria do RJTV da TV Globo sobre o escândalo do Banco Master, com participação da diretora da Secretaria de Aposentados do Sepe, Odisseia Pinto de Carvalho – clique aqui para ver o vídeo.

A Operação “Compliance Zero” que a Polícia Federal está realizando desde o início da manhã de hoje (18) para apurar um esquema de negociação de títulos falsos por instituições que integram o Sistema Financeiro Nacional já levou à prisão de dirigentes de instituições como o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Ao mesmo tempo em que a operação policial era realizada, o Banco Central decretou, também pela manhã, a liquidação extrajudicial do Banco Master.
Um monitoramento do Tribunal de Contas do Estado (TCE) detectou que o Rioprevidência, fundo que gere os recursos previdenciários para o pagamento de mais de 235 mil servidores estaduais aposentados e pensionistas, investiu R$ 100 milhões num fundo composto em 96% por ações da Ambipar, empresa brasileira da área de gestão ambiental que se encontra em recuperação judicial e teve bloqueado pela justiça a venda de ações por bancos, cujo valor vem caindo acentuadamente na Bolsa de Valores.
Nesta quinta-feira (02/10), às 14h30, a Comissão de Servidores Públicos da Assembleia Legislativa (Alerj) realiza audiência pública com o tema: “Financiamento do Rioprevidência”. A reunião irá ocorrer no auditório do 21º andar da sede da Alerj (Edifício Lucio Costa – Rua da Ajuda, nº 5).