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Nota do Sepe sobre onda de terror contra as escolas

Os últimos dias foram de grande tensão nas redes sociais, com ameaças à escolas – falsas e verdadeiras. Os efeitos já se sentem em várias regiões e, hoje (dia 10/4), uma série de unidades registraram uma onda de boatos que resultaram na falta de alunos e, até mesmo, no fechamento de algumas unidades em diversas regiões do estado. O terrorismo nas redes provocou uma sensação de grande medo entre familiares, alunos e profissionais. Neste momento, queremos expressar toda a solidariedade do Sepe aos profissionais, pais e alunos.

É necessário manter a calma e não permitir que uma onda de medo contagie e paralise as escolas. Neste momento há grupos de ódio atuando, divulgando ameaças nas redes, buscando um clima de terror e pânico, em todo o país. Não podemos ajudar a que se propaguem, mas tampouco podemos ignorar completamente as ameaças.

Sem pânico, é preciso reagir e proteger nossas crianças e o espaço escolar. Criar ambientes mais seguros começa por ter inspetores e porteiros – concursados – em cada escola. Exige ações integradas, de governos, escola e comunidade, e protocolos definidos para ameaças e possíveis ataques. Exige investir em inteligência nas redes e internet, para monitorar grupos de ódio e evitar ações. Exige suspender as operações policiais em comunidades em horários de aula, como vimos recentemente na Maré.

O ambiente mais seguro passa por enfrentar a carência de profissionais de educação nas escolas, que são os que conseguem identificar situações de crise e acolher jovens e adolescentes. Precisamos ter concursos e valorização profissional. Ao mesmo tempo, a rede de afeto e acolhimento na escola precisa ser reforçada com profissionais para atendimento psicológico e de assistência social.

A onda de ataques é reflexo do crescimento do ódio na sociedade, especialmente nos últimos anos, e com a defesa do armamento pelo bolsonarismo e governantes que não tiveram pudor em posar com crianças “fazendo arminha”. O ódio não é indiscriminado: procura atingir especialmente as mulheres, LGBTQIA+s, negros e negras, imigrantes – As “minorias” que o bolsonarismo tentou.

Mesmo reconhecendo a importância de debater o bullying ou efeitos do uso excessivo de tecnologia e das redes sociais entre os jovens, parece um erro reduzir a explicação dos ataques a estes aspectos. O tema é muito complexo, e certamente estes temas precisam ser tratados – mas sem perder o foco na principal causa, que é o aumento do ódio e seus componentes – a misoginia, o racismo, a homofobia e o capacitismo.

Não é por acaso que nós, educadores, estamos na mira dos ataques. Nossa categoria tem sido alvo de intensa perseguição nos últimos anos, sendo filmados em sala e fake news que colocava os alunos contra seus professores. Quiseram nos impedir de tratar em sala de temas fundamentais para combater preconceitos que agora invadem com violência o cotidiano escolar.

Obviamente, é necessário reforçar a segurança no entorno das escolas e garantir a funcionalidade e viabilidade destas iniciativas, sem ameaçar a liberdade, o diálogo e a democracia necessárias ao bom funcionamento das unidades escolares.

Diante dos ataques, os defensores do ódio e do armamento certamente apostarão no medo para oferecer saídas autoritárias, como militarizar escolas ou armar profissionais da educação. No entanto, mesmo ações de vigilância, necessárias, têm se mostrado insuficientes. Nos EUA, por exemplo, em 2021, as unidades educacionais gastaram o recorde de R$ 15,6 bilhões com sistemas e serviços de vigilância e proteção. Mesmo assim, o total de ataques também foi recorde neste ano – 47 casos, contra os 42 de 2020.

De pouco ou nada adianta criar botões de pânico, se não buscarmos as causas do problema e sem valorizar e dar condições de trabalho dignas a quem educa.

HOJE (10/04), 18h30, acompanhe a live sobre a violência nas escolas




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